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Sudão do Sul: como o país mais novo do mundo mergulhou num caos de guerra e fome

País declarou situação de fome em algumas áreas esta semana; Unicef estima que haja 270 mil crianças desnutridas. Independência foi conseguida em 2011 e, desde 2013, há uma guerra civil em curso.

O alerta, nesta segunda-feira (21), do governo local e de órgãos da ONU de que em partes do Sudão do Sul há milhares de pessoas pessoas passando fome, e que essa situação pode se estender a quase metade da população do país até julho, mais uma vez joga os holofotes da comunidade internacional sobre a nação mais jovem do mundo. Independente desde 2011, com uma guerra civil iniciada em 2013, o país de 12,5 milhões de habitantes tem uma das piores situações humanitárias do mundo.

Situação humanitária desastrosa

Segundo a Agência da ONU para os Refugiados (Acnur), mais de 1,5 milhão de pessoas fugiram do país em busca de proteção desde que começou o conflito armado.

O Sudão do Sul se transformou “na maior crise de refugiados da África” e “na terceira do mundo” após as de Síria e Afeganistão, segundo a Acnur, que lembrou que, adicionalmente, 2,1 milhões de pessoas estão deslocadas dentro do país.

O Unicef, por sua vez, calcula que 270 mil crianças sul-sudanesas estão gravemente desnutridas.

Atrocidades

Um informe confidencial da ONU vazado este mês dá conta de que a guerra alcançou “proporções catastróficas para os civis” e que as milícias podem se tornar incontroláveis e alimentar os combates por vários anos. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, escreve nesse informe que os civis fogem das cidades e aldeias “em um número recorde” e que o risco de que se cometam atrocidades em massa “é real”.

“Nossas visitas ao Sudão do Sul sugerem que está sendo levado a cabo no país um processo de limpeza étnica em várias regiões por meio do uso da fome, dos estupros coletivos e de incêndios”, disse, no fim do ano passado, a presidente da Comissão de Direitos Humanos da ONU para o país, Yasmin Sooka.

Atrocidades como o assassinato de crianças, castrações, estupros e degolas são alguns exemplos do que ocorre na região.

Em maio de 2015, a Unicef denunciou o assassinato de 26 de crianças – algumas de apenas 7 anos – e o sequestro de dezenas de outras em ataques realizados por grupos armados, formados homens e meninos armados, vestidos de militares ou civis, no estado de Unidade.

A ONU ainda acusou militares do exército sul-sudanês de estuprar e queimar vivas mulheres e meninas que estavam em suas casas no mesmo estado, segundo depoimentos de vítimas e testemunhas.

Independência recente

O Sudão do Sul conquistou sua independência em relação ao Sudão em julho de 2011, depois que um referendo realizado em janeiro daquele ano aprovou a separação com 98,83% dos votos a favor. O referendo estava previsto em um acordo de paz de 2005 que encerrou décadas de guerra civil.

Homem armado anda perto da vila sul-sudanesa de Nialdhiu (Foto: Siegfried Modola/Reuters)

As diferenças étnicas e religiosas do que então era apenas um país foram o principal ponto de conflito entre os dois lados. A população do sul (hoje o Sudão do Sul), formada por diversos grupos étnicos de maioria cristã ou animista, se sentia discriminada pelo governo centralizado em Cartum (no Sudão), de maioria muçulmana, e que tentava impor a lei islâmica na região.

O governo de Cartum foi o primeiro a reconhecer a nova nação, num sinal de secessão tranquila.

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