“Ainda estaremos lutando contra a Covid em 2022”, diz Otto Alencar

O senador Otto Alencar afirmou que vai aguardar o final da pandemia e o cenário político para definir se vai ser mesmo o candidato do PSD ao Governo da Bahia em 2022

Por Guilherme Reis, Henrique Brinco, Paulo Roberto Sampaio

O senador Otto Alencar afirmou que vai aguardar o final da pandemia e o cenário político para definir se vai ser mesmo o candidato do PSD ao Governo da Bahia em 2022. “Vou tomar a decisão em março, junto com Angelo Coronel, com os prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e deputados federais e estaduais. Eu disse que vou trabalhar no plural, olhando e ouvindo a todos. Não vou tomar decisão apenas da minha cabeça”, ressaltou, em entrevista à Tribuna. Segundo ele, na condição de presidente do partido, um líder “tem que olhar os interesses de todos”. Contudo, acredita que ainda não é o momento de se falar em eleição. “Acho uma coisa equivocada ficar tratando de eleição no meio de uma crise sanitária que já levou 300 mil pessoas ao óbito e outras tantas infectadas e com sequelas gravíssimas. Claro, me sinto preparado e disposto do ponto de vista político para disputar qualquer cargo majoritário, inclusive o de governador. Mas eu faço parte de um grupo grande que tem figuras importantes, como o senador Jaques Wagner, o governador Rui Costa e o vice João Leão. Isso dentro do grupo tem que ser analisado para ver qual é a melhor opção”, avalia. Ainda no papo, Otto critica a condução do presidente Jair Bolsonaro na Covid-19 e traça um panorama preocupante para a economia: na visão dele, a crise deve se estender pelo menos até 2023.

Tribuna – Como o senhor está vendo essas discussões a respeito das eleições para o Governo da Bahia? Vai tentar uma reeleição para o Senado ou vai manter a pré-candidatura ao Palácio de Ondina?

Otto – Não estou vendo eleição agora, porque seria uma coisa até incoerente no momento. Tenho dito isso permanentemente. Vou tomar a decisão em março, junto com Angelo Coronel, com os prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e deputados federais e estaduais. Eu disse que vou trabalhar no plural, olhando e ouvindo a todos. Não vou tomar decisão apenas da minha cabeça. O meu partido é forte no Estado. Os componentes dele no momento observam e declaram apoio a minha candidatura ao Governo do Estado. Eu acho que é precoce. Vou aguardar. Um líder de um grupo não pode olhar apenas os seus interesses de ordem pessoal. Tem que olhar os interesses de todos. Senão, não pode ser líder. Foi isso que eu falei. A decisão nossa será tomada em março de 2022. Acho uma coisa equivocada ficar tratando de eleição no meio de uma crise sanitária que já levou 300 mil pessoas ao óbito e outras tantas infectadas e com sequelas gravíssimas. Claro, me sinto preparado e disposto do ponto de vista político para disputar qualquer cargo majoritário, inclusive o de governador. Mas eu faço parte de um grupo grande que tem figuras importantes, como o senador Jaques Wagner, o governador Rui Costa e o vice João Leão. Isso dentro do grupo tem que ser analisado para ver qual é a melhor opção.

Tribuna – Nesta semana, o Instituto Paraná Pesquisas divulgou um levantamento que aponta uma suposta ampla vantagem do ex-prefeito ACM Neto contra o senador Jaques Wagner em um cenário virtual de eleição para 2022. O que o senhor está achando dessa disputa já colocada?

Otto – Olha, esse instituto… Eu não conheço direito, mas me informei com alguns amigos, é um instituto muito desqualificado, segundo informações que eu recebi. Mas, de alguma forma, tem dado a lógica dos anos anteriores: o candidato do Democratas sempre sai na frente. São quatro eleições seguidas. Agora, para chegar na frente é que é complicado. Mas eu não dou nenhuma credibilidade a esse instituto de pesquisa, pelas informações que eu recebi. Não interessa sair na frente. Interessa chegar no dia na frente. Eu, por exemplo, na minha candidatura ao Senado em 2014, no sábado à noite [a eleição seria no domingo] eu estava perdendo para o meu principal opositor [Geddel Vieira Lima]. No dia da eleição, ganhei com 1.730.000 votos de frente. Não serve de parâmetro essa pesquisa. Ela é intempestiva, fora de tempo.

Tribuna – O vice-governador João Leão sempre diz que o pilar de sustentação hoje do Estado é a aliança PT, PSD e PP. A sua candidatura solo não ameaçaria a força do grupo?

Otto – Qual é o problema de eu me lançar candidato? Há algum problema? O fato de lançar candidato ameaça a força do grupo? Pelo amor de Deus! João Leão foi lançado candidato, Wagner lançado candidato… Por que o PSD não pode lançar candidato? Existe alguma proibição? Não existe. Todo mundo quer ser candidato. Agora, a arrumação da chapa vai ser em março de 2022, que é quando se senta para resolver quem é que tem possibilidade de ser candidato a governador, senador e por aí vai. O grupo não vai ter nenhuma cisão até agora. O deputado federal Marcelo Nilo se lançou como pré-candidato pelo PSB. Ele tem direito? Tem, claro, todos têm direito. A arrumação do grupo não vai ser agora. A não ser que alguém de forma inconsequente queira fazer, um ano antes de preparar a chapa, fazer reunião para lançar isso agora. Não vejo nenhum problema. Ninguém vai fazer composição agora, faltando um ano para se decidir eleições. Têm três vagas na majoritária que serão ocupadas por quem estiver melhor.

Tribuna – Qual seria a chapa ideal para o Governo do Estado em 2022?

Otto – Não tenho. Só em março de 2022. Como vou falar em chapa ideal agora? Não sou o maior analista de política do Brasil. Seria uma grande infantilidade política. Acho até que falar em política agora, em chapa agora, é um desserviço às ações de combate à pandemia. Não vejo o governador Rui Costa preocupado com chapa. Eu não estou preocupado com chapa. Estou preocupado com a imunização, para que a Bahia consiga conter a doença. Infelizmente, me perguntam mais sobre chapa do que sobre pandemia. Sinceramente, não tenho conversado sobre política. Tenho conversado sobre ações no Senado para controlar a doença. Sou médico de formação e tenho que pensar desta forma.

Tribuna – O senhor chegou a ser ventilado pelo presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, como possível candidato do partido à presidência da República em 2022. Como andam essas conversas?

Otto – Isso foi antes da pandemia, depois parou. Agradeço muito a lembrança do presidente e posso dizer que não me falta preparo para assumir nenhum desses cargos.

Tribuna – O ex-presidente Lula voltou ao noticiário após a anulação das condenações julgadas em Curitiba. Ele será o candidato do PT? Se for, qual será o impacto dele nas eleições da Bahia?

Otto – Tudo é muito incipiente e preliminar. Tenho uma boa amizade com o presidente Lula. É meu amigo e gosto dele. Conversamos recentemente por telefone porque quis prestar minha solidariedade a ele, porque foi preso injustamente por um juiz que afundou a magistratura nacional [Sérgio Moro], aceitando ser ministro de Bolsonaro. Na minha opinião, ele foi preso injustamente. Ele virou um homem forte, uma liderança nacional e internacional também, conhecido no mundo todo. Espero que ele mantenha as condições de manter os seus direitos políticos preservados. E, se ele for candidato, pode ou não impactar aqui lá na frente. Tudo é muito novo, é incipiente e preliminar. Está todo mundo no meio de uma doença gravíssima. Você fazer previsões agora tem muita possibilidade de estar errando. Agora, é claro que ele é um líder de grande força política pelo trabalho que ele fez nos oito anos de presidente da República.

Tribuna – O presidente Jair Bolsonaro mudou o tom na semana passada em relação à pandemia, passando defender a vacinação no pronunciamento que fez em rádio e TV. Ele mudou de opinião?

Otto – Ele não mudou de opinião. Ele fez um ato cênico na televisão e eu esperava que ele confessasse os seus erros. Seria a grandeza. Ele errou em tudo, absolutamente tudo. Foi um ato cênico sem nenhuma convicção. O presidente e chegado a crenças falsas. Ele não tem segurança. Mesmo sabendo que está errado, ele continua persistindo no erro. Depois do pronunciamento, ele disse na live que o tratamento preventivo era correto. Lamentavelmente ele vai ficar errando e batendo a cabeça no muro.

Tribuna – O presidente vem perdendo popularidade com a condução da pandemia, de acordo com as pesquisas. Esse cenário é irreversível ou ele pode se recuperar com a volta do auxílio emergencial?

Otto – A rejeição é muito alta. O auxílio emergencial será sempre uma força, porque as pessoas estão passando dificuldades. Trabalhamos no Senado para o auxílio emergencial voltar ao que era no início: R$ 600 Acho que R$ 250 é muito pequeno para as necessidades que o povo brasileiro precisa para ter um mínimo de condições e acesso a cesta básica. Ele optou por isso, o ministro da Economia também optou por esse número. Mas, agora, o Paulo Guedes já começou a achar que vai se estender. Sou a favor de que, enquanto existir a doença no nível que está, se mantenha o auxílio emergencial. Não pode suspender o auxílio emergencial com a doença nos níveis em que está agora. Já fiz essa manifestação ao ministro da Economia.

Tribuna – Bolsonaro também criou na semana passada um comitê com governadores governistas para discutir as ações da pandemia. Após a reunião, o presidente da Câmara, Arthur Lira, fez um duro discurso que foi interpretado, inclusive, como a possibilidade de um início de um processo de impeachment. Como viu isso?

Otto – O presidente fez um ‘Petit Comité’. Excluiu representantes dos governadores, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde e os representantes dos prefeitos. Foi uma coisa apenas para dar uma satisfação. O Lira tomou essa decisão tarde demais, porque tem vários pedidos de impeachment na Câmara dos Deputados desde a época do Rodrigo Maia. Eles não deram seguimento. É importante definir um desses pedidos de impeachment. A assessoria jurídica da Câmara observar que, de acordo com os parâmetros legais, é crime de responsabilidade, que Arthur Lira possa colocar em análise no colegiado.

Tribuna – O ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, alegava que não havia maioria para aprovar o impeachment. Esse cenário está mudando?

Otto – Na Câmara dos Deputados vejo um movimento muito grande de entender que o presidente deixa muito a desejar em todos os sentidos para seguir sendo presidente do Brasil. Agora, o presidente da Câmara tem que analisar se existe clima ou maioria formada. Ele tem que analisar se houve crime ou não. Quer dizer que, quem comete crime agora, fica sujeito à maioria decidir se é contra ou a favor? Se for assim, devo dizer a você que a maioria não está com a virtude. Está com a omissão.

Tribuna – Como viu gesto polêmico do assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Filipe G. Martins, no Senado? Foi um gesto supremacista ou obsceno?

Otto – Ele quis fazer as duas coisas, o gesto obsceno e racista. Ele é da escola do presidente da República – usa palavrão e palavras duras e chulas. É a mesma coisa. Aquilo é o normal do Bolsonaro, agredir e xingar. O presidente Rodrigo Pacheco tomou uma decisão e mandou fazer uma investigação e eu soube que o Bolsonaro vai demití-lo. Agora, você sabe que esses assessores todos são de indicação dos filhos do presidente.

Tribuna – Acredita que as pessoas já compreenderam a gravidade da pandemia?

Otto – Me parece que as pessoas ainda não se deram conta da gravidade da doença. Se não for tomada uma providência, ela vai se estender por 2022 e 2023. Já veio a segunda onda e a Europa está vindo a terceira onda. O vírus sofreu mutações, com variantes cada vez mais graves, agressivas, virulentas e letais.

Tribuna – O senhor acha que a sociedade vai voltar a ser o que era antes?

Otto – Tão cedo, não. Você está falando muito em eleição no ano que vem. Ano que vem ainda estaremos lutando contra a Covid. Em 2022 vai ter Carnaval? Não. Réveillon? Também não. Tem que se preparar para saber que a vida mudou e que a máscara e o álcool em gel vai ser o novo normal por muitos anos. A gripezinha só existe na cabeça do Bolsonaro. Quem é médico entende que nós vamos conviver muitos anos com o coronavírus. Esse ano, ano que vem, 2023… O cenário é o mais sombrio e inseguro possível. O cenário é muito grave. Por isso que eu me preservo muito para falar de política.

Tribuna – A vacinação é o único caminho para retirar o Brasil da crise econômica? Qual seria o modelo de retomada? Há cenário para se discutir uma retomada econômica com crescimento no momento?

Otto – Só pode discutir retomada da economia com crescimento do PIB e a volta do crescimento volta também à absorção da mão-de-obra – que está na faixa de 14 milhões de desempregados. Nenhuma empresa vai fazer investimentos para ampliar as suas fábricas com risco de vida dos seus trabalhadores. Lamento muito o que está acontecendo no Brasil. Perdemos a Ford, paralisação da Mercedes e Nissan. Perdemos Honda, Audi… É uma coisa muito grave o que está acontecendo. E o único caminho que nós temos é imunizar a população. Só que a vacinação está em marcha lenta. Estamos aí com cerca de 7% da população vacinada, a maioria com a primeira dose ainda. E o presidente coloca na mídia que é o quinto país em vacinação no mundo. A população é muito grande e, em vez de colocar percentual de vacinados, coloca o total de vacinados. Tomara que acelere agora. Esperamos que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, tome essa providência de conseguir vacinas. A rede do SUS tem uma capacidade muito grande e pode vacinar mais de 1 ou 2 milhões por dia.

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