Política

‘PT quer liderar uma frente que represente Lula e Jerônimo’, diz Robinson

O Partido dos Trabalhadores está avaliando possíveis candidatos para a disputa da Prefeitura de Salvador nas eleições de 2024, e um dos nomes cotados é o do deputado estadual Robinson Almeida. Em entrevista exclusiva ao jornal Tribuna da Bahia, Robinson fez severas críticas à atual gestão do prefeito Bruno Reis, do União Brasil, considerado um forte candidato à reeleição.  

Para Robinson Almeida, a cidade de Salvador tem enfrentado dificuldades em atrair investimentos e garantir a satisfação da sua população. Nesse contexto, segundo ele, o PT pretende apresentar um projeto alternativo para a cidade, e o nome do deputado está sendo analisado para ser oferecido à base do governador Jerônimo Rodrigues, do PT, buscando apoio das demais lideranças políticas.  

Indagado pela reportagem se já houve qualquer tipo de conversa sobre o assunto dentro do PT, o parlamentar negou que a sigla tenha cogitado lançar o ministro da Casa Civil, Rui Costa, como concorrente contra Bruno Reis.   

Embora, para o deputado, Rui Costa seja um nome natural para quaisquer disputas eleitorais na Bahia, devido à sua passagem pelo governo estadual e sua atual posição no governo federal, Robinson Almeida garantiu que o ministro está focado em sua missão de auxiliar o presidente Lula na “reconstrução do país” e não deve concorrer nas eleições do ano que vem.

Confira a entrevista na íntegra: 

Tribuna: O que o senhor está achando desses primeiros sete meses do governo Lula?

Robinson Almeida: O presidente Lula, em menos de sete meses, já fez mais do que o governo Temer e o governo do inelegível. Foram recriados os programas sociais que foram extintos por esses dois ex-presidentes e além disso a retomada da economia brasileira, com a baixa da inflação, a reforma tributária, o arcabouço fiscal e a necessidade de que o presidente do Banco Central ouça o clamor da sociedade e baixe a taxa de juros para que o país possa oferecer créditos, e a economia rodar com mais velocidade. O presidente Lula voltou a ter o protagonismo internacional, quando foi presidente entre 2003 e 2010, colocou a agenda da pobreza em todas as cúpulas, recredenciado como um interlocutor importante nas decisões mundiais, e recuperou a imagem do Brasil no mundo, muito abalada pelo governo que flertava com o fascismo do ex-presidente. Então são acertos estratégicos que o presidente nesses três meses implantou no Brasil, cumprindo as suas promessas, o Desenrola, que saiu agora renegociando as dívidas de milhões de brasileiros, os investimentos que chegaram, como a BYD na Região Metropolitana de Salvador, outras importantes ações, como a retomada da Ferrovia de Integração Oeste-Leste, retribuindo a Bahia, todo apoio que foi dado para Lula vencer a eleição em 2022. 

Tribuna: Temos visto uma redução no preço de alguns produtos, a inflação também recuando. Já é um reflexo das políticas do governo Lula em sua avaliação? 

Robinson Almeida: Sem sombra de dúvidas. Quando o presidente orientou a direção da Petrobras a nacionalizar os preços do petróleo, especialmente o gás de cozinha, a gasolina e o diesel, isso refletiu na economia, uma desaceleração dos preços, porque a economia brasileira tem nos combustíveis parte importante do seu movimento, no Brasil é transportado por caminhões e isso acaba levando o preço do frete para a ponta. Então a redução dos combustíveis teve um impacto muito importante na economia. Também outros setores como a questão da carne bovina, tudo isso nesse ambiente novo, de maior credibilidade do presidente, de maior confiança do povo no governo, e o cuidado que tem isso tomado para que a fome seja novamente extinguida ou extinta do nosso país. Então o presidente tem dado uma ênfase muito grande a essa questão de você reduzir os índices de extrema pobreza no país, como o programa de transferência de renda, que foi ampliado com o Bolsa Família, e com as políticas sociais, todo ambiente econômico melhora com essa proteção maior do Estado com o povo brasileiro.  

Tribuna: O Censo 2022 mostrou recentemente que a população de Salvador reduziu bastante nos últimos anos. A que podemos atribuir isso?  

Robinson Almeida: Em 12 anos, Salvador perdeu 250 mil habitantes. Eu, quando adolescente, saí de Santo Antônio de Jesus e fui morar em Salvador. Vim morar em Salvador porque lá no Recôncavo não tinha universidade, não tinha oportunidade para continuar estudante e trabalhar. Então as pessoas migram de uma cidade para outra atrás de oportunidades para desenvolver a sua vida, arranjar um emprego, estudar, melhorar a qualidade de sua atuação no dia a dia. Então, quando 250 mil pessoas saem de Salvador é porque Salvador deixou de dar oportunidade a essas pessoas. Salvador, nos últimos 12 anos, coincide com as gestões do atual prefeito e do seu grupo. E isso não pode ser explicado como eu vi aí de segmentos da Prefeitura como um problema do IBGE. Não é um problema do IBGE, é porque Salvador se tornou uma cidade cara, que tem um IPTU como um dos mais elevados do Brasil, é uma cidade que não atrai investimentos. Salvador tem uma indústria da multa que quase todo soteropolitano que dirige já recebeu uma multa, não tem política de educação no trânsito, e além disso Salvador presta uma péssima qualidade de serviço em algumas áreas. Saúde é uma delas. Apenas 57% da população tem uma cobertura da atenção básica de saúde. Então praticamente a metade da população não tem um médico, não tem um posto de saúde, não tem um enfermeiro, não tem um agente comunitário para cuidar das suas demandas diárias. O transporte é outro problema crônico. Salvador entrou em colapso no transporte coletivo de passageiros, porque a população dos bairros está isolada, sem a conexão com o modal do metrô. Foram desativadas muitas linhas que ligam os bairros até as estações de metrô, deixando a população sem poder desenvolver as suas atividades. Então, o conjunto desses fatores que explica por que 250 mil pessoas nos últimos 12 anos resolveram deixar a cidade.  

Tribuna: Como estão as conversas dentro do PT a respeito de 2024, a articulação das pré-candidaturas, e também as discussões em torno do seu nome, que é uma das principais opções do PT para essa disputa em Salvador no ano que vem? 

Robinson Almeida: O PT tem uma corrente muito forte que quer apresentar um projeto alternativo para Salvador, um projeto que quer apresentar um novo modelo para a cidade. Um modelo de desenvolvimento econômico que desafogue o setor produtivo para atrair investimentos; que tenha prioridade na melhoria dos serviços públicos, especialmente a saúde e o transporte; que apresente políticas de inclusão da nossa gente, com emprego, com renda; que proteja a nossa juventude com programas sociais, com práticas culturais, esportivas, e de educação. Salvador precisa de um novo modelo, de um novo projeto. Salvador não consegue ser mais uma cidade atrativa de investimentos e uma cidade que preencha a satisfação de boa parte da população que mora aqui. Então o PT quer apresentar esse projeto alternativo para a cidade e o meu nome é um dos que estão sendo avaliados para apresentar ao conjunto dos partidos da base do governador Jerônimo Rodrigues e ser avaliado. O PT tem a intenção de liderar uma frente que represente aqui o governo Lula, o governo Jerônimo, na cidade, e vai apresentar um nome, e o meu está sendo avaliado com a adesão de importantes lideranças para que a gente possa, quando chamado pelo governador agora em agosto, sentar-se na mesa e apresentar as razões, opiniões e desejos do PT, que é governar pela primeira vez Salvador.  

Tribuna: Alguns outros partidos da base também têm demonstrado a vontade de lançar um candidato a prefeito nas eleições do ano que vem. Na sua avaliação qual a melhor estratégia nesse sentido? Principalmente considerando que em eleições passadas o grupo optou por ter mais de uma candidatura a prefeito…

Robinson Almeida: A melhor estratégia é unificar a base do governador em uma única candidatura. Porque as nossas últimas disputas em Salvador tiveram duas, três ou quatro candidaturas da base, mas uma acabou se afirmando como principal, sendo um polo de confronto com a candidatura da Prefeitura, e isso nos leva a entender que se nós reunirmos uma maior força em torno de um candidato, essa candidatura já nasce como um polo alternativo com mais força e sem a divisão, sem a fragmentação, para o eleitorado de Salvador. Então eu acredito e defendo que a melhor estratégia para a eleição de 2024 é uma candidatura única que represente Lula, Jerônimo e os partidos da base do governo do Estado aqui em Salvador.  

Tribuna: O PT já chegou a conversar com algum outro partido ou ainda vai esperar a reunião do conselho político? 

Robinson Almeida: O que eu acompanho é que o PT tem feito a conversa interna do partido para amadurecer esse programa, discutindo com todas suas lideranças, com intelectuais do partido, com dirigentes, militantes, sobre a Salvador que queremos, e está esperando a batuta do governador Jerônimo reunir o conselho político para que ele possa fazer essas conversas, esse diálogo, bilateral. No mês de julho, o planejamento do PT é de definir o seu candidato, e definir também as linhas do seu programa de governo. 

Tribuna: Nessa semana, o senador Otto Alencar endossou o nome do ministro Rui Costa como uma possibilidade para disputar a Prefeitura de Salvador. Esse assunto chegou a ser discutido no PT em algum momento ou é uma suposição isolada que ele fez? 

Robinson Almeida: Não, eu creio que por ter sido governador, por ser atual ministro da Casa Civil, o nome do governador Rui Costa é um nome natural para qualquer disputa na Bahia, para ser candidato novamente a governador, ou a senador, ou a prefeito de Salvador. É um nome muito competitivo, porque ele saiu do governo muito bem avaliado.  Agora, eu já ouvi o testemunho do próprio ministro de que ele vai seguir na missão que foi dada pelo presidente Lula de ajudar na reconstrução do Brasil chefiando a Casa Civil, esse é o planejamento político dele, e creio que não há chance de ele se tornar candidato na eleição de 2024. 

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