Política

Ex-presidente Lula mira modelo chinês e defende ciência e tecnologia para reconstruir o Brasil

Pré-candidato à Presidência em 2022, Lula (PT) e o ex-ministro da Ciência e Tecnologia Sérgio Machado Rezende defenderam investimentos em ciência e tecnologia para retomar o desenvolvimento do Brasil.

Em artigo publicado na “Folha de S. Paulo”, ambos denunciaram, ainda, o descaso intencional e o criminoso retrocesso do país sob o governo de Jair Bolsonaro (PL).

“Nenhum país conseguiu se desenvolver plenamente sem implantar políticas de Estado para educação e para ciência e tecnologia (C&T). A educação é porta de acesso a empregos de melhor qualidade e com maior remuneração, amplia oportunidades e possibilita um desenvolvimento econômico mais equânime”, afirmam.

Eles destacam, ainda, que o domínio em larga escala de C&T é condição necessária para tornar as empresas competitivas globalmente, aumentar a riqueza e fortalecer a soberania das nações, citando como exemplo a China, que usou a ciência e tecnologia para mudar o rumo da história do país.

“Na virada do século, o país investia US$ 40 bilhões em C&T, enquanto os investimentos nos Estados Unidos eram de US$ 300 bilhões. A China implantou uma política de Estado para desenvolver a ciência, no âmbito de um superministério, e hoje investe mais de US$ 400 bilhões em C&T”, escrevem, ressaltando que a “produção científica chinesa em 2021 ultrapassou a norte-americana, que há décadas tem sido a maior do mundo”.

Lula e Rezende observam, ainda, que a China desenvolveu um parque industrial extenso e competitivo, com programas de interação com o sistema de pesquisa. “Exemplo bem conhecido é o da tecnologia 5G para comunicação digital, que ela desenvolveu antes das potências industriais. Dessa forma, o PIB do país, que na virada do século era de US$ 1,2 trilhão, o sexto do mundo, hoje passa de US$ 15 trilhões, só atrás dos EUA.”

Das estratégias anunciadas pela China 2020, o ex-presidente e o ex-ministro lembram que nove estavam no Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI), executado pelo PT no Brasil entre 2007 e 2010: biotecnologia, nanotecnologia, tecnologias da informação, insumos para saúde, energias limpas, biodiversidade, mudanças climáticas, programa espacial, defesa nacional e segurança pública.

“Estes eram os elementos de uma das quatro prioridades do plano, às quais se somavam: expansão e consolidação do sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação, promoção da inovação tecnológica nas empresas e C&T para o desenvolvimento social. Para financiar os 87 programas do PACTI, foi essencial aplicar, sem contingenciamentos, os recursos do Fundo de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, formado por receitas de empresas de diversos setores, o que permitiu um investimento de cerca de R$ 65 bilhões em valores de hoje”, ressaltam.

Retrocesso e descaso do governo Bolsonaro
Sobre o retrocesso, Lula e Rezende destacam o “desmonte das instituições públicas, na direção do Estado mínimo, marca de um governo que aprofunda a agenda neoliberal e um ajuste fiscal irrealista. Vamos na direção oposta da China e de outros países”, dizem.

Entre os descasos, se sobressai a trágica condução da pandemia da Covid-19, que resultou na perda de quase 620 mil vidas.

“Felizmente, testemunhamos o enorme esforço da comunidade científica brasileira e seu compromisso com a vida, na busca de soluções para a gravíssima crise sanitária. E testemunhamos a rápida resposta do SUS, que sobreviveu às tentativas de desmonte, e de seus valorosos profissionais na linha de frente contra a pandemia”, escrevem.

“O próximo governo terá o enorme desafio de retomar o crescimento econômico, criar empregos, superar a pobreza e reduzir a desigualdade. Será fundamental restabelecer uma política e um plano de ciência, tecnologia e informação, recuperar as agências federais e prover orçamentos adequados, em esforço conjunto do Estado e das empresas.”

“O exemplo de outros países, nossos próprios avanços e o amargo retrocesso que sofremos não deixam dúvidas: educação e ciência são essenciais para a reconstrução e o futuro do Brasil”, finalizam. Redação da Revista Fórum.

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