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Moradores de municípios chapadeiros usam expressões do português antigo para se comunicar por gírias

Algumas palavras e expressões podem ter um sentido além do seu real significado, e até mesmo ser misturada com línguas estrangeiras.

Em partes do território da Chapada Diamantina algumas palavras e expressões podem ter um sentido além do seu real significado. No Vale do Capão, distrito pertencente ao município de Palmeiras, os dialetos ganham curiosas misturas internacionais. “Aqui é comum expressões como ‘nossa, moço, pero no mucho’. Essa mistura de sotaques e línguas é muito forte por aqui”, diz Deise Pereira, professora de português no Capão. Atualmente, o distrito possui 1.800 habitantes – dos quais, estima-se que 30% sejam de estrangeiros (principalmente argentinos, italianos e franceses).

Uma palavra muito usada em Lençóis, na Chapada Diamantina, é ‘cruviana’, para se referir ao vento frio. Por isso, é comum o ouvir: “eita, bateu uma cruviana”. Essa palavra é de um português mais antigo e consta no dicionário. Quer dizer “vento frio”. Enquanto ‘digitório’ significa uma ajuda, uma pequena doação a quem precisa.

Alan Daniel, que mora em Lençóis, apresentou uma das novas expressões do momento: ‘mamparra’. “Quando vim morar aqui, achava que ‘mamparra’ era gíria. Mas aí bateu a curiosidade e procuramos no dicionário. Ela realmente existe”, aponta Alan. Ele explicou que, quer dizer fazer algo com preguiça. Sem muito cuidado.

A palavra em questão pode ser originária do interior de Minas Gerais. Em 1844, em Mucugê, foram encontrados os primeiros diamantes na Chapada, iniciando um superpovoamento nas cidades da região. Mineradores, aventureiros, garimpeiros e escravizados abriram picadas e cruzaram fronteiras até o recém-descoberto Eldorado de carbono.

Minas Gerais havia sido um polo de ouro de aluvião até o fim do século XVIII. O sonho do enriquecimento a partir das pedras valiosas alimentava o imaginário coletivo de quem se mudou para a Chapada em busca das novas jazidas. Lençóis chegou a ter 25 mil habitantes no auge do ciclo – mais de duas vezes mais do que a cidade tem hoje, em 2020. Logo, vieram as novas palavras, rapidamente incorporadas na oralidade.

No contexto da escravidão, por exemplo, fazer algo de ‘mamparra’ era uma forma de resistência à labuta forçada. Uma forma de completar a tarefa exigida, fugir dos castigos físicos, mas longe de buscar qualquer primor. Hoje, há um movimento para organizar um dicionário de gírias e expressões próprias do Vale do Capão e suas consequências diretas na oralidade.

 Jornal da Chapada com informações do Correio 24h.

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