Moradores de Barra da Estiva denunciam crime ambiental contra a nascente do Rio Paraguaçu
A empresa de plantio de batatas opera a cerca de um ano no povoado do ‘Paraguaçu’; até o momento já abriu mais de 12 poços clandestinos para irrigação do plantio e, não suficiente, começou a instalar um sistema de drenagem do rio com tubulações de pelo menos 500mm de diâmetro.
Moradores do povoado do ‘Paraguaçu’, a dez quilômetros da nascente do rio de mesmo nome, localizado na região limite entre os municípios de Ibicoara e Barra da Estiva, na Chapada Diamantina, denunciaram para a Polícia Ambiental e Secretaria Municipal do Meio Ambiente a ação criminosa de uma empresa que opera no plantio de batatas e está canalizando as águas do rio para uso próprio. O registro da denúncia, recebida na manhã da terça-feira (2), chegou por meio de vídeo à redação do Jornal da Chapada.
Segundo o morador local Marcos Dutra, estudante de Ciências Sociais, ativista ambiental e guia nativo de Barra da Estiva, a empresa opera a cerca de um ano no povoado do ‘Paraguaçu’. Até o momento já abriu mais de 12 poços clandestinos para irrigação do plantio e, não suficiente, começou a instalar um sistema de drenagem do rio com tubulações de pelo menos 500mm de diâmetro.
Em um dos vídeos de denúncia, um morador nativo do povoado diz que nos “meses de julho e agosto, quando a chuva é pouca, a gente não tem nem [água] para molhar o morango com um ‘caninho’ de 25 [mm], imagina um cano desse sugando a água do nosso rio?”. A região é conhecida pela prática da agricultura familiar, com pequenos plantios de vegetais, como o morango, e pequenos criatórios de gado para a subsistência. “Aqui havia um córrego que as pessoas usavam. Devido aos poços, o córrego secou. Esse córrego era para a sobrevivência das famílias”, conta o ativista Marcos Dutra.
Marcos salienta que há inúmeras plantações ao redor da nascente do Rio Paraguaçu e já quase nenhuma mata nativa preservada. Ele reitera, ainda, que o município de Barra da Estiva não possui uma lei municipal de proteção ambiental ou planejamento estratégicos que visem políticas públicas de preservação do meio ambiente na região. “Ou a gente preserva ou vamos colher frutos amargos lá na frente”, diz o ativista ambiental. “O que a gente tem de mais valor aqui é esse rio, água é vida e a gente precisa proteger”, acrescenta o morador nativo no vídeo de denúncia.
Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a agricultura em larga escala é um dos setores que mais consome água no país. Dentre esses, de acordo com dados publicados no site da Embrapa, o cultivo da batata demanda irrigação constante, pois o vegetal é extremamente sensível ao déficit de água, mesmo pequenos períodos de estiagem comprometem o sucesso da lavoura e a necessidade total da cultura pode superar 800mm durante o ciclo do plantio.
Jornal da Chapada