Política

Bacelar lança pré-candidatura e diz que “quem procura apoio tem que estar disposto a apoiar”

Em entrevista exclusiva à Tribuna, o pré-candidato a prefeito de Salvador, o deputado federal Bacelar, não demonstrou nenhum desconforto em criticar o vice-prefeito Bruno Reis (DEM), que é apontado como provável postulante do prefeito ACM Neto (DEM) para a sucessão de 2020. Bacelar revelou Bruno para a política. “É uma revelação. Tem tido uma trajetória que merece aplauso. Agora, Bruno defende um projeto elitista, um projeto que aprofunda a desigualdade. Um projeto que é frágil para enfrentar o problema de pobreza que essa cidade tem”, declarou. Ainda na entrevista, Bacelar fez duras críticas ao governo Jair Bolsonaro (PSL), e disse que a parceria do prefeito ACM Neto com o presidente inviabiliza um retorno do Podemos para a base do democrata. “É quase que impossível uma aproximação minha com o grupo político do prefeito, porque estou bem onde estou. Segundo porque o prefeito tem uma aproximação muito grande com Bolsonaro. É o representante de Bolsonaro na Bahia. E eu sou oposição radical a Bolsonaro. Eu quero derrubar democraticamente o governo de Bolsonaro, porque tudo que ele defende é contra o que penso”, pontuou. O presidente do Podemos na Bahia disse que a pulverização de partidos tem ajudado o Brasil. “A beleza da política está em destruir certos dogmas. Eu dizia que a proliferação de partidos políticos era um mal para a democracia, mas ai do Brasil se não tivesse 30 partidos políticos com representação na Câmara. Bolsonaro já tinha dado um golpe, porque ele teria uma maioria. Ele conseguiria forma uma maioria. Como há diversidade, ninguém consegue forma ampla maioria por muito tempo. São maiorias casuais”, pontuou.

Tribuna – Como avalia o momento atual da política no Brasil? Ainda tenso?

Bacelar – É muito crítico o momento atual. É um momento de confronto às instituições da democracia representativa. O chefe do Poder Executivo diariamente trama contra os pilares formadores da democracia representativa, o Parlamento, o Judiciário. Todos esses poderes são pilares da democracia representativa, que são questionados e atacados diariamente pelo presidente da República. Isso gera uma situação de intranqüilidade e uma situação de pré-crise institucional. Que ainda se aprofunda isso com a família do próprio presidente. O filho que disse que, com um jipe, um soldadinho, um cabo fechava o Supremo. Agora diz que a qualquer momento pode-se estudar uma fórmula para um novo AI-5. Isso são afrontas à democracia representativa. Isso é um questionamento à democracia do país. Isso gera crise, gera intranquilidade. Por outro lado, as instituições têm reagido bem. As instituições democráticas brasileiras, apesar de bem jovem, são instituições que estão passando bem. O presidente da República é populista e, como todo populista, se aproveita da situação de crise econômica, da corrupção, que leva ao descrédito do segmento político, para se perpetuar no poder. Há uma falta de perspectiva na sociedade. Então, ele junta essas três situações da sociedade e utiliza isso para si. O mundo todo tem essa descrença. Essa situação econômica de um país que não cresce. Dados negativos. Um país com 14 milhões de desempregados, com a classe média sendo achatada, com o aumento da extrema pobreza. Tem um segmento político envolvido em escândalos de corrupção. E aparece o salvador da pátria com a solução dos problemas, com soluções simples para problemas estruturalmente difícil.

Tribuna – Como o senhor viu a decisão do Supremo de rever a prisão em segunda instância, que beneficia diretamente o ex-presidente Lula?

Bacelar – Aí tem dois aspectos. Dizem que tem um ditado que diz que decisão judicial não se discute, mas sim se cumpre. Essa é uma decisão judicial que eu concordo do ponto de vista constitucional. Está na Constituição. É clausula pétrea. Que ninguém será condenado até a sentença transitar em julgado. Se tem quatro instâncias, então é uma decisão do STF correta. Agora, se a sociedade brasileira acha que a prisão deve ocorrer quando do julgamento em segundo grau, vamos alterar a Constituição. Eu sou representante da população. O que não dá é a gente desrespeitar a Constituição.

Tribuna – As informações divulgadas pelo The Intercept influenciaram na decisão do STF?

Bacelar – A Suprema Corte deve ser uma Corte que não pode julgar nem decidir pelos reclames da sociedade, nem por circunstâncias. O vazamento do The Intercept mostra que o ex-presidente Lula foi condenado de uma forma injusta, de uma forma que fere os preceitos constitucionais e jurídicos. Mostra que se montou um esquema. O Judiciário se associou ao Ministério Público para levar o presidente à cadeia. Eu não estou aqui dizendo que o presidente Lula é inocente. Isso não cabe a mim.

Tribuna – Vivemos algum tipo de ameaça à operação Lava Jato e ao combate à corrupção?

Bacelar – Eu acredito que não. Inclusive, os ministros que votaram a favor da constitucionalidade da prisão em segunda instância disseram que isso não atacava em nada a Lava Jato, que isso não provoca a impunidade no Brasil. A Lava Jato é uma grande operação, precisa continuar e ser ampliada para estados e municípios. Agora, isso mostra a beleza da democracia representativa. Ninguém é o dono da verdade. Não é a vontade do juiz, não é a vontade do desembargador, não é vontade do deputado, não é a vontade do governador, que vai imperar. O que tem que a imperar é a lei.

Tribuna – Como o senhor avalia a crise do PSL com o governo Bolsonaro? Isso pode gerar uma crise maior e repercutir negativamente nas votações do Congresso?

Bacelar – O partido é outro pilar da democracia representativa e ele (Bolsonaro) não respeita. Ai é outro exemplo do desrespeito do presidente às instituições. Ele já teve oito ou nove partidos na vida. E o PSL foi ajuntamento que ele se apropriou para ele chegar ao poder. Ele não tem nenhuma ligação. O PSL é um ajuntamento. Não tem nada ideológico, de programático que os una. Agora, acho que isso não influencia. Não acho que gere uma crise institucional. A beleza da política está em destruir certos dogmas. Eu dizia que a proliferação de partidos políticos era um mal à democracia, mas, ai do Brasil se não tivesse 30 partidos políticos com representação na Câmara hoje. O Bolsonaro já tinha dado um golpe, porque ele teria uma maioria. Ele conseguiria formar maioria. Como há diversidade, ninguém consegue formar ampla maioria por muito tempo. São maiorias casuais. Se fosse um sistema bipartidário ou cinco ou seis partidos, com certeza, teriam quatro partidos de um lado e dois de outro. Isso daria mais a ele mais de 308 deputados e, ai ele alteraria a Constituição ao próprio bel-prazer. A dispersão de partidos favorece hoje o fortalecimento da democracia brasileira. É uma vacina contra as ideias autoritárias de Jair Bolsonaro. A saída dele do PSL não gera crise. Vai gerar uma maior dispersão do quadro partidário. Ele vai levar 20 ou 30 deputados do PSL.

Tribuna – Como viu o pacote de reformas apresentado pelo governo na semana passada?

Bacelar – São propostas muito amplas e resenham o país. Bole em toda a estrutura do país. Me preocupa muito porque pensa na destruição do estado brasileiro. Vai além do estado mínimo. É a destruição total do estado, com redução dos investimentos sociais. No mesmo dia em que levou o pacote ao Congresso, o IBGE divulgou a síntese dos indicadores sociais mostrando que quatro milhões de brasileiros foram empurrados para a extrema pobreza. Hoje, nós temos no Brasil 13,5 milhões de pessoas vivendo com menos R$145 por mês. Destes, 750 mil vivem na cidade de Salvador. Então, a gente precisa da presença do Estado. Não pode haver crescimento econômico com aprofundamento da desigualdade social. Olha o Chile. O Chile está matando aquele aposentado que tinha há 25 anos, 40 anos. O problema do Brasil é a geração de emprego e o pacote destrói o estado brasileiro.

Tribuna – O Podemos perdeu o controle do Detran e hoje está com o comandado da Adab. O partido está satisfeito com o governo Rui Costa?

Bacelar – Está satisfeitíssimo com o governo Rui Costa, como todos os baianos. Aonde nós chegamos, o governo Rui Costa é aplaudido. A avaliação é extremamente positiva do governo. Com o governo Rui Costa, nós estamos satisfeitíssimos. Mas com o nosso espaço no governo, não. Achamos que temos um espaço reduzido para a importância do partido. Agora, isso não é privilégio nem exclusividade nossa. Nenhum partido político nunca está satisfeito com o espaço que tem.

Tribuna – Muitos aliados reclamam do desprestígio do Podemos junto ao governador. Qual seria o motivo desse desgaste?

Bacelar – Primeiro, eu acho que, com o governador, nós temos amplo prestígio. Tenho uma relação pessoal muito boa com o governador. Tenho relação de admiração com ele. O governador me conhece desde quando eu era líder da oposição na Câmara e ele era vereador. O governador sabe quem eu sou. A retirada nossa do comando do Detran é porque nenhum órgão do estado é capitania hereditária. E só o governador pode responder o que o levou a fazer uma mudança de programa no Detran, de atuação no Detran. A Adab é um órgão, do ponto de vista de tamanho e influência política, muito menor que o Detran, mas é um órgão importantíssimo para o estado porque cuida da defesa agropecuária da Bahia.

Tribuna – O senhor é colocado como pré-candidato a prefeito de Salvador. O senhor terá fôlego para manter essa candidatura para o ano que vem?

Bacelar – A realidade de Salvador é cruel. É para poucos ricos contra uma população que vive em condições inferiores a África subsaariana. Tem um poder altamente concentrado. É a capital da desigualdade. A administração da cidade vive ainda do mito da baianidade e a população é relegada. Os índices educacionais de Salvador estão entre os piores do Brasil. A população não tem acesso ao lazer. A população vive na constante ameaça do tráfico e da violência da polícia. Há uma criminalização da pobreza. Precisamos de uma gestão revolucionária que desconcentre essa riqueza. Não podemos continuar com 750 mil pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, com altas taxas de desemprego. Onde pode gerar riqueza em Salvador está concentrado nas mãos dos mesmos. Os mesmos que há séculos dominam essa cidade. Ou a gente abre isso e constrói uma única cidade, ou isso vai virar um vulcão que está prestes em entrar em erupção. Os bairros têm potencial de riqueza grande e não são estimulados. Precisamos criar novas formas de trabalho, reformar o perfil do trabalho. A prefeitura joga seu aparato contra o ambulante. Persegue a baiana do acarajé. Não cria a economia solidária. É a prefeitura do carnaval, do réveillon… pra quem? Eu venho com uma proposta para mudar isso. Não vou disputar se o meu centro de convenções é mais bonito do que o do governo do estado. Eu quero é discutir politicamente a cidade. Vamos enfrentar essa elite do atraso. Vamos destruir esse pensamento da elite atrasada de Salvador ou vamos continuar brincando no playground?

Tribuna – O deputado Sargento Isidório sinalizou que pode abrir mão da cabeça da chapa e ser o vice em 2020. Já foi cogitada também a possibilidade de Bacelar compor a chapa. O senhor aceitaria ser vice?

Bacelar – Neste momento, eu me apresento como pré-candidato. Mas eu estou procurando apoio. E quem procura apoia tem que estar disposto a apoiar. E ele é uma grande liderança da cidade. Atua numa faixa eleitoral que eu atuo. É uma liderança que tem que ser levada a sério. Não pode – por preconceito – ser colocada no segundo plano. Eu converso da mesma forma que converso com Bellintani, com Olívia, Lídice, Alice, Nelson Pelegrino. É o nosso campo. As forças que dão apoio ao governador Rui Costa têm uma riqueza de perfis para comandar a cidade de Salvador.

Tribuna – O senhor tece críticas ao governo de ACM Neto, mas muita gente diz que há possibilidade de mudar de lado. Isso tem fundamento?

Bacelar – Não teço duras críticas à administração do prefeito. Eu até reconheço que é uma administração regular. Faço duras críticas ao direcionamento da administração do prefeito, das prioridades do prefeito. O governador resolveu a questão da mobilidade urbana. O governo resolveu a questão das encostas. Então, eu não crítico a administração do prefeito, que é de obras para o mesmo. O que eu crítico é a direção das intervenções do prefeito, que não populares. Eu reconheço que o prefeito organizou a cidade. Agora, é quase que impossível uma aproximação minha com o grupo político do prefeito, porque estou bem onde estou. Segundo porque o prefeito tem uma aproximação muito grande com Bolsonaro. É o representante de Bolsonaro na Bahia. E eu sou oposição radical a Bolsonaro. Eu quero derrubar democraticamente o governo de Bolsonaro, porque tudo que ele defende é contra o que penso.

Tribuna – Como vai ser enfrentar o vice-prefeito Bruno Reis, que o senhor revelou para a política. O senhor vai se sentir confortável?

Bacelar – Tem uma grande relação de amizade. Tivemos uma relação política muito grande. Bruno Reis foi peça fundamental para o fortalecimento do Podemos. Na época, era PTN. Mas o que está em jogo não é uma questão de amizade, mas um projeto para a cidade. E o meu projeto é totalmente oposto ao de Bruno, que é um bom executivo. É uma revelação. Tem tido uma trajetória que merece aplauso. Agora, Bruno defende um projeto elitista, um projeto que aprofunda a desigualdade. Um projeto que é frágil para enfrentar o problema de pobreza que essa cidade tem. Essa cidade tem toque de recolher. Eu, como prefeito de Salvador, não vou admitir toque de recolher na minha cidade. Não tem toque de recolher na Barra, no Caminho das Árvores, na Graça, mas tem toque recolher nos bairros populares. É a população sufocada pela força policial, que pelo racismo institucional criminaliza a pobreza.

Tribuna – Sobre a saída do vereador Carlos Muniz do partido, a situação está pacificada?

Bacelar – Olha, do meu ponto de vista, sim. O partido está de portas abertas para entrar e sair. Foi muito boa a convivência enquanto ele esteve aqui, mas agora cada um toca o seu projeto.

Tribuna – Com qual tamanho o Podemos pretende sair da próxima eleição?

Bacelar – Nós temos feito grandes bancadas na Câmara de Salvador. Não tem nenhum partido em Salvador que tenha inserção na cidade como o Podemos. Estamos no movimento sindical, negro, LGBT. É um partido vivo. Eu acredito que a gente pode fazer de seis a oito vereadores. Agora, isso é adivinhação. Voto a gente só sabe na apuração. Mas, a gente tem potencial para eleger oito vereadores. Temos 108 pré-candidatos inscritos e dois vereadores.

Colaboraram: Guilherme Reis e Rodrigo Daniel Silva

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